Clarice Lispector
Fevereiro 20, 2012
Isabel Afonso
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Fevereiro 20, 2012
Isabel Afonso
Fevereiro 20, 2012
Isabel Afonso
Morre-se nas praias da Normandia
Vive-se no Porto de Amesterdão
As putas oferecem sexo ao marinheiro desalinhado
O meu pai morre nas praias da Normandia
as areias duras mantêm-lhe o corpo hirto
no ar paira o cheiro da derrota
No Porto de Amesterdão os músculos do marinheiro amolecem
depois do orgasmo
As estacas brancas dispostas em cruz
erguem-se como cogumelos
nos campos verdes da Normandia
A enfermeira ergue a seringa de morfina
a bata branca cega-me
No Porto de Amesterdão
sangram peixes em caixas
sujas da morte que se repete
pelas madrugadas
Do lugar onde me encontro posso vê-los a todos
trepassados por punhais
sitiados pela arrogância
Aí esse lugar onde ergueis o vosso
castelo altaneiro
sois vulneráveis
como o corpo do meu pai
abandonado na praia de areias firmes
onde o sangue escorre para o mar